domingo, 25 de outubro de 2015

Há quem nos tire, e Há quem nos devolva

Nos últimos tempos tenho conhecido um número considerável de pessoas, e isso só se fez possível quando eu resolvi me desfazer das amarras e pré- conceitos que trazia comigo.
E nessa mudança, conheci pessoas que não valeram a pena, mas também descobri pequenos gênios escondidos sob codinomes em grupos de watsaaps da vida.
E das tantas pessoas que agora fazem parte de uma maneira ou de outra do meu cotidiano, descobri uma pequena que escreve gigantemente, que tem uma alma extraordinária, e tem deixado isso claro através de seus textos. Ela escreve como se transpassasse sua alma para o papel, e não somente a sua, é como se ela compreendesse o que acontece com as almas viajantes por ai.

Li um texto dela, gostei, li outro, gostei, e quando percebi, estava ali, mergulhada nas palavras soltas no Blog Desapego, que é de propriedade da Ana Brito, que conheci através do primeiro e único grupo que me interessei em fazer parte no wats.

Para que vocês entendam melhor o que falo, segue link e o texto dela que gostei muito:

http://desapego29.webnode.com/news/amadurecer/


Amadurecer


Decepções, conquistas, vitórias, choros ... decepções. É incrível como o ser humano tem a tendência de buscar de todas as maneiras sofrer. Poderia dizer: “em especial as mulheres” mas não. Seria hipocrisia falar isso porque todo mundo se apaixona, todo mundo sente ou deveria sentir. O problema é que as mulheres demonstram mais esse sofrimento, colocam ele para fora explicitamente. Enquanto os homens por uma questão social, histórica e machista ou simplesmente por vergonha se retraem mais, fingem ser os “durões” da situação. 
Ele não era o cara com quem eu pudesse pensar em algo para o futuro. Ele não me via como alguém com quem ele pudesse ter um relacionamento. E mesmo assim eu me envolvi, não vou dizer que foi de uma maneira pura e romântica, nem eu queria sentir algo. No início admito que minha única pretensão era, simplesmente passar um tempo com alguém que eu me sentisse bem estando ao lado, seria uma troca boa, várias afinidades ... por que não? A última coisa que eu queria era me envolver ou nutrir um sentimento amoroso por alguém, eu estava querendo só curtir, como a gente não manda no coração, e mesmo se mandar ele não obedece. Sem perceber fui me apegando, começando a sentir a falta, começando a desejar estar ao lado dele. Comecei a pensar nele vez ou outra, e depois o dia todo.
 Me dei conta que não importava o que eu estivesse fazendo ele estava lá, perdido em meio a bagunça dos meus pensamentos, de um jeito ou de outro ele estava lá. Uma dor começava a me consumir, eu não sabia o que era, na realidade eu até sabia. Mas eu me recusava, rejeitava de todas as formas eu sabia o que começava a sentir. Eu me recusava a sentir afinal eu sabia o quanto doía e o quanto ainda podia doer. Foi uma guerra sem fim, uma guerra contra mim. Continuei me encontrando com ele, eu não queria sentir mas continuava alimentando aquilo, aquele sentimento. E a cada beijo, a cada toque, a cada suspiro dele ao meu ouvido esse sentimento aumentava, eu não aguentava mais negar.
Fui derrotada, assumi para mim, foi duro. Depois de um tempo ele foi parando de manter contato comigo, eu não entendi, dias, semanas. Mas ele voltava e falava comigo, não como antes, já não tínhamos tanto assunto. Sempre foi ele que me procurou e eu fui cedendo, dando corda. E é essa corda que me sufoca agora, fico pensando que ele não quer mais nada comigo, isso me dói, será que ele não sentiu nada por mim além de atração? Será que depois de tantas vezes juntos, ele não conseguiu sentir nada, nenhum sentimento que não fosse ligado ao sexo? Não consigo saber o que ele sente, tenho medo de falar com ele e dizer o que eu sinto, tenho medo de parecer uma criança boba que se apaixona por um cara fácil demais. Tenho medo de parecer uma idiota. 
 Tudo que eu mais queria era poder contar para ele, derramar essa agonia e me despir da máscara que coloco, toda vez que o vejo, para esconder os meus sentimentos. Não, não estou apaixonada. Estou apenas sentindo algo por alguém com quem eu vivi uma história, um lance e nada mais, porém foi uma história. Não deveria mas eu sinto e não posso evitar sentir. E como a pessoa pode ser tão fria ao ponto de dormir com alguém, conversar quase todo dia, brincar e não sentir algo? Pode ser coisa boba, quase nada, mas a pessoa sente. Eu pensava nele muito, me pergunto se ele também pensava em mim. Era e é simplesmente isso que eu gostaria de saber mas não sei se vou, não sei se terei coragem de falar ou se isso faz alguma diferença. Me sinto confusa porque eu não sei o que ele pensa, se pensa ou se já nem lembra mais. Imagino que ele não queira mais continuar com o tal do nosso lance, acho que perdi.
 Me pergunto como podemos perder algo que nunca foi nosso? Não se perde mas se sente a dor da perda, a gente sente mesmo sem ter motivo concreto. Porquê tudo tem que ser assim, com rótulos, com definições e toda aquela velha hipocrisia pré-estabelecida? Eu gostaria de ser uma pessoa mais fria, infelizmente não sou. Meus valores humanos vêm em primeiro lugar. Eu gostaria, eu gostaria, eu gostaria de tanta coisa ... eu gostaria de estar com ele, poxa, mas não posso, tantas coisas me impedem, principalmente uma: ele. Com o tempo, eu acredito que esse sentimento vai se desfazer ou adormecer dentro de mim. 
Estou tentando seguir em frente sem pensar nele, mas mesmo sem querer eu penso. E aos poucos vou me dando conta de que, algumas coisas são boas para levarmos como lição de vida, coisas para não repetirmos. Aos poucos, estou percebendo que estou saindo dessa melhor do que entrei. Menos magoada e mais forte. É tudo uma questão de tempo e paciência, acredito que isso é o que significa aquela palavra lá: "amadurecer", só não imaginava que doesse tanto. Mas talvez, essa dor me ajude a nunca mais depositar expectativas em coisas que não dependem só de mim. Talvez isso seja crescer, e crescer parecia ser mais legal na teoria.

Suportando as tempestades

Certa vez, alguém que me ama muito e a quem eu amo também, me disse a seguinte frase: se queres alcançar o arco iris minha menina, terás que usar todas as suas forças para suportar as tempestades.
E a minha tempestade responde pelo nome de adenocarcinoma de colon, nome que nem se quer fiz questão de decorar no inicio,como se bloquear as informações fosse me curar mais rápido, ou fazer com que eu me sentisse melhor.
A cada novo estágio algo muda, principalmente dentro de mim, e me faz desejar cada vez mais ver o arco iris no final da tempestade.
Tenho conseguido que a doença não interfira tanto no trabalho, e nada no que diz respeito aos amigos e família, até porque, esta é uma causa que resolvi movida pelas minhas convicções a abraçar sozinha.
Alguns dias os sintomas são suaves, e consigo que ninguém perceba cansaço ou dor em mim, outros isso é quase impossível. Vim de uns dias super bem, esse final de semana as coisas já não saíram como eu esperava, então tratei de ficar mais em casa, e pouco com as pessoas.
Na próxima semana tenho o retorno com o onco e com a equipe multidisciplinar, isso não inclui a psicologa, a quem recorri pouquíssimas vezes.
Esta semana também será a primeira vez que não levarei os resultados dos exames lacradinhos para o médico, já consigo entender o que aparece ali, e foi bom eu ter aberto, estou indo para os médicos esta semana muito confiante, tudo por conta de alguns números, que na primeira vez era 12 cm, alguns meses depois era 8 cm, depois com 3 cm e desta vez, dois anos depois, vou com um resultado limpo,
Para um paciente com câncer, não brilhar tanto na ressonância magnética é um troféu.
De fato está a primeira vitória palpável que tenho, é a primeira certeza depois de tanto tempo de dúvidas.
Sim, o meu arco íris já se faz visível, e muito da luta só aconteceu por insistência permanente de alguns amigos que abraçaram esta causa comigo.
É tão bom ir dormir sem medo de não de acordar, é tão bom falar com um amigo sem medo que aquela vez seja de fato a última.
Demorei a entender e a enxergar que suportar as tempestades é trabalhoso, algumas vezes doloroso, mas que vale gigantemente a pena.
Aos que estão sempre comigo, néh não D. Ana Maria e seu José Augusto, o meu muito obrigado, e mesmo assim agradecer é pouco por cada segundo da vida de vocês que doaram para os meus  problemas.
Infinitamente, obrigada por ter me dado o arco íris.