terça-feira, 5 de julho de 2011

Minutos que fazem toda a diferença

Trabalhar em um hospital é algo que exige muito de mim, não fisicamente, mas psicologicamente. quem conhece minha historia sabe que no hospital onde trabalho faleceram meus dois primeiros filhos, meus avós, e isso acaba sempre deixando marcas na gente.
Desde o mês passado sai do andar térreo para trabalhar diariamente na UTI, e não é nem preciso dizer que vemos coisas realmente feias na UTI, pacientes em situações críticas, e o esforço para passar por tudo isso sem desmoronar é grande.
De uns tempos para cá andei me indagando sobre quais motivos a vida teria para me colocar pra trabalhar justamente ali, naquele lugar que reabre minhas feridas e faz retornar todas as minhas dores, e umas das respostas que encontrei foi: para fazer a diferença.
Quando recebi do meu inconsciente esta resposta não entendi seu significado, até a vida colocar no meu caminho o pequeno Guilherme.
O Guilherme é filho de uma das funcionárias do hospital, portadora de algumas deficiências e muitas limitações, os 20 dias de vida, o Gui foi internado por conta de uma pneumonia, quando fui visitá-lo pela primeira vez, ele estava muito cansado, respirando com dificuldade e sem se alimentar.
 Alguns funcionários que conhecem as limitações da mãe dele, se contentaram apenas em fazer alguns comentários maldosos, do tipo, como alguém assim pode ter filho, na hora de fazer filho a deficiência nao impediu, mas ajudar mesmo que é bom, nada.
Quando vi aquele menino ali, frágil, cheio de fios e tubos, me veio na cabeça a primeira vez que vi meu filho Pedro Henrique, do quanto ele estava mal, e eu também, e pela minha condição de saúde nem pude ficar com ele o tempo que desejava. E quando olhei para aquela mãe, ali, rendida, na sua primeira experiência como mãe, e tendo que estar ali, com seu bebê doente, tendo que saber quais decisões tomar, sem nenhuma luz para guiá-la, e com seu filho correndo sérios riscos, resolvi, tenho que fazer alguma coisa.
Conversei com a mãe dele e deixei ela me contar tudo o que estava acontecendo, quais as suas dificuldades, medos, e ela reclamava de estar sempre sozinha, raras visitas e de ninguém ajudá-la.
Ai passei a ir visitá-los a cada mamada do Guilherme (deixa minha chefe saber disso), com muito prazer ajudei ela a colocar o Gui no peito, e quando ele não pegava o peito, dei a mamadeira. Ela se queixa de não aguenta-lo, a deficiência dela faz seus braços  e pernas doerem, e as vezes eles vacilam, então resolvi dar uma mãozinha nesse sentido.
Adorei ter aquele toquinho mamando em meus braços, matei um pouco da saudades. E descobri que meu colo realmente acalma e induz ao sono.
E a cada nova visita as reclamações diminuem, o sorriso ao me ver aumenta, e meu coração se põe mais em paz.
Agora sei que a minha ida ao hospital é mais um aprendizado que precisa ser entendido e vivido.
Eu que estava achando minha vida tão sem graça, encontrei em alguns minutos a graça da vida.
E entendi que dependendo de qual lado se esta, de que momento se esta vivendo, 1 minuto pode fazer toda diferença, imaginem vários.
Guilherme, obrigado pelos minutos de paz, entrega, carinho e satisfação. E me aguarde, a folga acabou e a tia aqui esta chegando.

Um comentário:

  1. Que lindo Fer!
    Minutos realmente fazem a diferença e essa dedicação a opróximo tb! =)

    Beijos!

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