sábado, 10 de novembro de 2012

O que vida da vida!

Até eu chegar a ser a mulher que sou hoje, passei por diversas etapas, algumas delas nem me dei conta, pois eu tinha olhos e ouvidos que viam e ouviam por mim, eu tinha uma especie de filtro, que só deixava chegar até mim aquilo que não podia me ferir, esse filtro chamava-se mãe.
Recordo-me como se fosse hoje do quão bela minha mãe fazia a vida parecer.
Domingo era dia de ir a missa, e era lei não repetir a roupa, então quando as combinações acabavam lá estávamos nós na loja comprando mais roupas, e o carinho com que minha mãe as escolhia.
Lembro-me das nossas idas a manicure a cabeleireira (gosto que eu de fato não adquiri), minha mãe sai mais bela do que nunca, e eu sempre saia de unha pintada..rs
Iamos ao supermercado todos os sábados, e ir ao supermercado era programa de família, íamos mamãe, papai, irmã e eu, depois de uns anos agregou-se ao passeio minha sobrinha.
Tudo era liberado, não conhecíamos os preços, conhecíamos nossos gostos, e o melhor disso eram as receitas que mamãe sempre preparava depois das idas ao mercado.
Sinto saudades da casa cheia, família reunida, primos, primas, amigos, e agregados, todos sempre bem vindos, fazendo a casa transbordar em alegria.
Até então eu vi a vida com cores vibrantes, com alegria constante, com uma paz contagiante.
Ai, em 6 de julho de 2006 as 15:00 tudo mudou.
O sorriso aberto e constante de minha mãe se transformou num semblante de medo e dor, e os seus olhos fixos em mim pareciam não compreender o que eu dizia: mãe eu te amo, eu te amo, eu te amo, e o brilho daqueles olhos que iluminavam a minha vida se apagaram para sempre, e toda aquela cor da vida se acinzentou.
E a vida tomou tons de preto e cinza.
E toda alegria e disposição que eu tinha em viver se esvaiu. E eu silenciei minha alegria, abafei meu riso, e morri um pouco junto com aquela que trazia alegria para a minha vida.
Mas a vida continuou, e a minha maneira eu segui em frente, colori a proprio punho as imagens em preto e branco, mas eu ainda tinha muito o que ver da vida.
Engravidei, vi meu filho Pedro nascer grande e bonito, e três dias depois enterrei, sem vida, sem beleza, e a vida novamente perdeu sabor.
Mas eu persisti, peguei minha aquarela e sai dando cor a tudo o que aparecia, ai veio Maria Luiza, e qaundo eu achei que o arco iris tinha aderido as cores que eu havia jogado nele, minha filha nasceu e faleceu sem que eu pudesse conhecê-la com vida.
Ai eu fui mais fundo, parei na frente de um espelho e disse, até quando Deus a vida terá esse borrão de cinza, e ele me mandou a vitória, a minha filha Vitória, que enche a minha vida de cor e alegria, que faz eu querer lutar dia após dia de forma incansável, como se minha energia se recarregasse quase que automaticamente.
Ai passei a ver a vida sem cansaço, com uma sede absurda de vencer as diversidades, de vencer os meus limites, de tornar-me alguém cada vez melhor, maior dentro de mim mesma.
E passei a ver a vida em tons coloridos porém transparentes em 50%, pois não há um só dia que a morte daqueles que tanto amo não me doa e não me faça chorar.
Vi a vida em todas as cores possíveis, e não sem dor, aprendi que até nos tons de cinza, há algo bom subentendido, pois tornei-me uma pessoa melhor talvez não pelas vitórias, mas sim pelas derrotas que tive na vida.
Hoje vejo a vida sem os pés nas nuvens da minha infância, e também sem o peso da dor que sofri na vida adulta, vejo a vida como um mar de possibilidades, no qual cabe a mim aprender a navegar.

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